terça-feira, 23 de agosto de 2016

UMA CRIANCINHA




                                                                                   Elmo Costa Cezar

Caminhava distraidamente por uma rua, quando vi uma mulher acompanhada de uma criancinha, na porta de uma farmácia. A mãe do menininho vendia alguma coisa.  Vendia dropes ou balas ou bananadas, não é importante o artigo que comercializava. O que importa é a tristeza da cena.

Uma criancinha exposta ao frio, alimentada com lanches, e sob o olhar curioso ou misericordioso do povo. Um pequeno ser que poderia ser nosso irmão, nosso filho, nosso neto, nosso sobrinho, nosso afilhado, etc.  Simplesmente um ser humano igual a qualquer um de nós.


 Um triste pensamento me vem à mente: será que já é um treinamento para o amanhã? O amanhã vagando pelas ruas, pedindo esmolas, dormindo sob as marquises, catando o que encontra nos lixos, exposta à violência de outros menores abandonados? Essa criança vai ser internada nas instituições do governo? Local que jamais substituirá um lar equilibrado.

Será que o pequeno ser vai ser seduzido pelos descaminhos? Os maus passos predispõem à violência. A violência nasce dentro das classes marginalizadas. Quem está marginalizado faz suas leis. Uma vez feita as leis pelos marginalizados, como o crime tem peça de reposição e o investimento na área social é pequeno, a violência se perpetua.

Mas a criancinha estava ali diante dos meus olhos. O que poderia eu fazer? Chamar um guarda municipal para que fosse levada a uma instituição, aconselhar a mãe da criança procurar um emprego, dar esmola? ... Mas alguém  disse que a mãe da criança poderia ser usuária de drogas, deixando reflexivas as pessoas que contemplavam o quadro triste.

Não sei o que fazer! Sou mais um incompetente.

Olhei para a criança e vi em seu rosto um sorriso. Um sorriso de quem, na sua inocência, ainda não tem noção da gravidade do fato. Ela deveria estar numa escola, numa creche, dentro de casa, recebendo a atenção e o carinho dos pais e sendo educada para o amanhã. Amanhã?! Que amanhã? Com essa corrupção, com essa impunidade, com essa miséria de investimento na área social, com esse salário mínimo de fome, o amanhã depende de muitos esforços nossos para ser melhor. Ela vai estudar, ter uma profissão e seguir a vida com dignidade? Vai ler “ O contrato social” de Jean-Jacques Rousseau, “Utopia” de Thomas Morus, ‘Cândido’ de Voltaire, “Ulisses” de James Joyce, “O príncipe” de Maquiavel, e outros? Não sei! Tomara que sim...Ou vai manipular um   AR-15, um fuzil HK, uma pistola 9 milímetros, uma escopeta calibre 12, uma faquinha de R$ 1,99 e assaltar principalmente as mulheres e os idosos, e seguir o  caminho triste e sombrio do crime? Não sei! ...

De repente, a simples visão de uma criança carente, desencadeou em mim um mundo de reflexões. Posso, agora, vislumbrar o futuro de incertezas de muitos brasileiros.
Diante da minha impotência, segui a multidão, lembrando-me do trecho bíblico que fala do homem que foi assaltado e ferido, e muitos passaram à boa distância dele.  Eu era mais um a fugir do local onde havia um ser humano carente ...
Segui a multidão. Essa mesma multidão que vai as urnas eleger seus governantes, e que está cansada de ver entrar governo e sair governo e a justiça nunca chega.

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Textosetextoselmocostacezar.blogspot.com.br
e- mail: ee.cezar@yahoo.com.br

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