terça-feira, 6 de maio de 2014

PRIMO, UM PARENTE TEMPORÁRIO...

         Interessante: primo é um parente temporário. As pessoas quando estão na infância e na adolescência recebem com amor,  carinho e prazer  os primos. Um dorme na casa do outro, passeiam juntos, brincam juntos. É uma alegria. Quando se casam, a coisa muda de aspecto. Cada um vai para sua casa. Nesse momento, todo aquele laço familiar, toda aquela espontaneidade que existia acaba. As esposas perdem a condição de prima, sobrinha, afilhada, ex-colega de colégio, ex-colega de faculdade, ex-colega de trabalho e passam ser simplesmente esposas. Os maridos não gostam que as esposas fiquem ao telefone conversando com os primos delas e as esposas não gostam que os maridos fiquem ao telefone conversando com as primas deles. Os primos se veem raramente ou não se veem mais... 
Quando um homem liga para a prima dele e começa a conversar com ela o marido da prima diz logo: 

        - O quê que esse cara quer. Cara enjoado, p..., não vê que está incomodando. Vá conversar com a mulher dele. Vá procurar o que fazer...

A mulher responde:
        - Vocês cansaram de brincar juntos. Agora você está com essa frescura. 

        O marido diz:
        - Foi naquela época. Hoje seu primo é personal trainer. Nem pensar em ser orientada por ele. Vamos esquecer esse sujeito. 
Quando essas mesmas pessoas ficam velhas , o pensamento muda... Passam a ter prazer em receber visitas e telefonemas de parentes.  Nesta fase da vida, o tempo já desmanchou grande parte dos atrativos do corpo, o ciúme, então, diminui ou acaba... Vem a solidão e os parentes e amigos, que antes eram repelidos por causa do ciúme, passam a ser aceitos.  O cotidiano do idoso é mais ou menos assim: uma idosa casada recebe telefonema de um primo que não vê há muito tempo. Convida-o para visitá-la. O primo chega e ela o recebe com espontaneidade. Eis o diálogo:
        – Primo, como vai? Há quanto tempo! Os meus filhos se casaram. Estamos sós. Vá entrando! Sente-se! Fiz uma cirurgia de colo do fêmur. Como sofri! Olhe a cicatriz!... 
A prima levanta o vestido e, na maior naturalidade, sem nenhum pudor, na frente do marido, mostra a cicatriz ao parente.
A idosa continua:
Primo, você já almoçou?
O primo responde:
          – Não!
A velhinha acrescenta:
          – Primo, vá à copa. A comida ainda está quente. Sente-se. Coma à vontade. 
Após o almoço, eles e conversam sobre coisas do passado.
O marido da prima fala:
         – Durma no quarto do Carlinho (um dos filhos que se casaram). Descanse à vontade. Eu também vou dormir um pouco. Quando você acordar, vamos jogar cartas, para passar o tempo...
Daí para a frente,  trocam constantemente telefonemas e visitas. 
Os primos voltam a ter a espontaneidade e o carinho que existiram entre eles na infância e na adolescência, até o casamento. 
O tempo é senhor de tudo. 

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